quarta-feira, novembro 30, 2011

Prometo que se você colar em mim vai ter massagem todos os dias -- com final feliz, é óbvio! Prometo que eu não vou fazer muita bagunça, mesmo porque de certa maneira sou organizado. Eu prometo que quando você chegar o que não estava funcionando estará, ainda que eu tenha que pedir ajuda para outra pessoa. Não prometo mas vou tentar sorrir todos os dias. É feio prometer o que não se pode cumprir, porque eu posso estar num dia de cão e aí não há sacristão que me aguente. Mas como eu saberei que é você, não dá para soltar pelo menos aquele sorrisinho de canto, meio de orgulho, meio de ternura. Eu também prometo que vai ter música, e que eu vou mostrar pelo menos uma canção que me faz ficar mais feliz. Enfim, eu poderia prometer milhões de coisas, mas eu prefiro prometer que vou continuar fazendo o que mais me dá pra fazer, que é ser seu melhor amigo.

quarta-feira, novembro 02, 2011

Imagino como seria nós dois
você, tão autossuficiente, tão impávida
e eu, tão precisando do seu colo
mas, mesmo assim, nós dois
tão capazes de estarmos apaixonados

Imagino que nossos nomes combinam
em algum anagrama de felicidade
e talvez em uma pintura cubista
sei lá, quem sabe somos anarquistas

Eu preciso da leveza dos seus olhos
do teu cheiro na minha nuca
queria ouvir mais sua voz dizendo meu nome

Por que a gente não se enrosca de uma vez
já que nós somos tão livres um para o outro
e presos a uma felicidade eterna?


quarta-feira, outubro 26, 2011

ócio

o bom de não fazer nada,
é o exercício forçado
de transformar o todo,
cheio nada
em algo
cheio de tudo,
menos o nada.

quarta-feira, outubro 19, 2011

O copo ficou em cima da mesa
eu não vou mexer nele para não borrar
a aura, sua, que ainda está por lá

Também não peço de volta
os bilhetinhos infantis que te dei
porque eu queria chamar sua atenção
mas só consegui ser "aquele cara esquisito"

Não quero mais ter desilusões
vou andar pelos puteiros
vou andar sozinho nas ruas
concentrar-me no meu trabalho
[que tanto me tira o sono, mais que você]

Eu não quero colocar meu peito na loteria
prefiro ser o grande amigo que o pior homem
abro a conta do bar, fecho os olhos para tudo
até que
talvez, um dia, quem sabe,
eu possa ser poeta novamente

Até que alguma alma caridosa me aceite.

(Luiz Guilherme Amaral)


segunda-feira, outubro 17, 2011

Por enquanto

Não me bastaria
ter-te virtual-
mente
O desejo é concreto
determinado
e insiste:
quer sentir
seu desejo
em riste

quinta-feira, outubro 06, 2011


Você talvez não saiba, mas está constantemente me levando pela mão
de volta ao lugar onde parei de existir
e eu me animo a trabalhar um universo de problemas,
fundindo galáxias, escoando velhos buracos tristes.
Encontrando a trilha de algo perdido há tanto tempo.
Ainda dói, tudo ainda é estranho.
Mas eu já não sangro á tôa e agora lembro que tenho olhos para ver as coisas.

quarta-feira, outubro 05, 2011

Meu coração de criança não é só a lembrança de um vulto feliz de mulher que passou por meus sonhos sem dizer adeus e fez dos olhos meus um chorar mais sem fim.

[Caetano me entende]

quarta-feira, setembro 14, 2011

Quando há um dia em que não tem você
é um dia em que só o triste é o que se vê.

(Luiz Guilherme Amaral)

quarta-feira, agosto 31, 2011

Você está nas minhas páginas
na minha caligrafia
na água que cai em meus cabelos
no começo do dia
E está com os olhos sobre mim
quando meus barcos
cheios de esperanças
tomam o rumo aos seus lençóis
E estamos de mãos dadas
em todos os instantes da vida
porque é assim que somos

(Luiz Guilherme Amaral)


quinta-feira, agosto 18, 2011


Os dias são áridos e na lâmina da noite,
não há mais o que esperar.
Tão perto do sonho, a realidade em você.
Fascinante, decepção.

Aqui estou eu neutralizando venenos.
(a roda-viva continua girando)
Afastar esse algo que tocou onde não podia.
Reconstruir o castelo, deixar secar as areias.
Mais um desejo dominando o horizonte.
Linda, decepção.

O tempo passa e devo voltar a ser quem era
porque ao menos
eu sempre sei o tamanho das minhas feridas.


quarta-feira, agosto 17, 2011

E nós dois ao som daquela música no meio da festa, quando seus sapatos já lhe arrancaram a alma e eu resolvi segurá-los, pensando "vou levar um deles para botar no meu relicário". E você, tão linda, tão tudo nessa vida, faz tanto pelos meus olhos e meu coração. Não consigo me imaginar sem você. Nem quando você está brava. Nem quando você desaparece por uns dias. Nem mesmo quando eu sei que você pensa em mim mas não confessa. E eu, tão derretido que sou por você, às vezes nem acredito que é possível haver tantas cores nas nossas palavras.

(Luiz Guilherme Amaral)

segunda-feira, agosto 15, 2011

A mulher das luas


Sou lunática
como a estática criatura
que reflete sua luz
...e reluz
em nossas faces
em nossas peles
só quando brilho
sou de fases,
imito cecilia meireles

domingo, agosto 14, 2011

?

tenho medo de acordar um dia
mais sozinha do que nunca
nesta cadeira
cujo número não bate com meu bilhete,
usando as roupas de outra pessoa

tenho medo de acordar um dia
e nada do que é meu me servir mais
(ou tudo que é meu jamais ter servido - como as gordas com as banhas a escapar pelo topo das calças)

ainda que sem examinar 6 bilhões um a um
a humanidade me parece unânime
ao menos nessa fome eterna

de forma que
a grande interrogação universal já não pergunta
porque o céu é azul?
porque estamos aqui?
porque nada de bom passa na TV aos domingos?

e sim
pode a felicidade nos fazer

felizes?

LOLA

Sem tempo de pôr no papel
Os versos que sonho a noite

É que a poesia se acertou
Com o amor e alegria,
E decidiu sempre acordar do meu lado
Para desejar bom dia.

quarta-feira, agosto 10, 2011

Hoje não tem poesia
hoje só tem olhos baixos

A saudade tirou meus cobertores esta manhã.

segunda-feira, agosto 08, 2011

identidade

também sou de repente
de rompantes
sou dos detalhes
e dos retalhos
sou de intriga
de entrega:
e é isso que me faz
da guerra ou da paz

sexta-feira, agosto 05, 2011

meu amor

meu amor tem um gosto de mar e
                não apenas gosto, tem a ressaca & o refluxo

como praias brasileiras, em julho.


meu amor acorda cedo aos domingos
                xícara de café & cigarros nas mãos

ainda assusta-se com minhas olheiras e cabelos desgrenhados,
                embora sejam os anos.


meu amor tem a urgência de quem não anda,
                meu amor não acredita nos relógios:
                                as horas estão sempre erradas
               
                                                quando o móbile não se move,
                                                                mesmo com tempestades.


meu amor tem o peso de um morto.


meu amor, meu amor deixa os sapatos à porta, antes de entrar
                é sua maneira de não permanecer.

quinta-feira, agosto 04, 2011


Ah aquelas madrugadas de inverno.
Éramos gigantes percorrendo os caminhos da cidade.
Bêbados, mal-educados, livres;
bebida barata contra o frio e nada no caminho.
É preciso contar essas histórias.
Gritar ao mundo o significado de cada momento,
os dias épicos desse tempo que acaba se dissolvendo
em brumas de calendário.
Noites de ânsia e espera, amores instantâneos que vêm e vão.
Do nada e para sempre.
Episódios que voltam em sonhos e rostos e vontades quase sem sentido.
Eu quero contar as minhas histórias.
Quero ser bobo, exagerado; imaturo.
Trazer de volta cada fantasma, retraçar cada descoberta.
Antes que a vida se torne fácil demais e eu me esqueça.
Antes que fique escuro.

quarta-feira, agosto 03, 2011

Tanta coisa que eu queria dizer
tantos escritos embaixo da cama
e dentro do armário
e dentro do meu coração

Ainda bem que somos jovens
eu tenho que te levar a tantos lugares
e você precisa me dizer
por onde esteve durante todo esse tempo
em que eu estava escondido atrás dos
[meus versos

Acho que eu posso dizer que pertenço a alguém.

segunda-feira, agosto 01, 2011

erótico

sim
todo tato é
desejo
fantasia...
falo
poesia

e sensações poeticamente libidinosas
me arrepiam

sexta-feira, julho 29, 2011

não notei quando me furtei.

amor foi embora, mas
..........pode devolver minhas palavras?

quarta-feira, julho 27, 2011

Eu queria você mais perto
para roubar um pouco da tua inteligência
e ter cãibras de tanto falar e ouvir

Eu queria te mandar cartinhas de amor
mas eu ainda não anotei seu endereço
e não quero que seu cachorro coma minhas palavras
quando o carteiro passá-las por baixo da sua porta

Queria ser exatamente o que você espera
mas isso a gente só descobre aos poucos
mesmo assim eu penso muito em você
e falei de você para meu pai, com os olhos brilhando

Eu queria ser mais seu
queria que ficássemos extremamente apaixonados
inseparáveis por uns dois mil anos

Eu quero que seja você
após todas as que passaram
e me prepararam para ser seu par ideal

(Luiz Guilherme Amaral)



sábado, julho 16, 2011

paredrices

*

Amor


O amor é um jardim decorado com canteiros de corações partidos onde vivemos nossas incríveis estórias. Aventuras irresponsáveis que ressuscitaremos em nossos travesseiros pelo próximo milhão de noites. Pequenos suicídios emocionais, overdoses de arrebatamento, angústia, orgulho.

(Quando seus lábios encostam-se aos meus, eu penso nela. Mas sempre que ela se aproxima de mim, eu lembro de você.)

Escolhemos a confusão, nos perdemos numa mata de meias-palavras. Lembranças duvidosas, olhares de viés, promessas que jamais poderemos cobrar.

(Você trespassou o coração do meu coração como uma adaga renascentista. Eu preparei este sonho para você, mas você devorou a minha mão.)

O tempo foge e de repente é a vertigem: longe demais para chegar, muito para tentar entender, muito tarde para mergulhar. O lago secou.


(Vem a madrugada e o mundo é um borrão de fracassos úmidos. Eu volto ao conforto da montanha, meu útero freudiano no meio da floresta.)

Então nos recolhemos e aceitamos nosso papel. Somos mártires sacrificados em nome do amor. Sangramos o enredo da nossa estória, a mais triste jamais contada. Cultuamos nossa dor, procuramos a redenção. Como um epitáfio para o sonho destruído, um exorcismo, um grito lancinante.

(Porque todo o amor que sou capaz de roubar, pedir ou emprestar, não basta para aplacar essa dor. O que é o amor? Apenas um prelúdio para a tristeza. Seu objetivo é construir os verdadeiros silêncios)

Trágico é aquele que anda pelas colinas e olha atrás de si o paraíso perdido. Não tem mais nada, não é mais nada. Quer obrigar o mundo a aceitar suas lágrimas, engolir seu silêncio. O mundo tem mais o que fazer. O sol brilha. As flores são belas.
O amor é patético.


. . .
*


A cidade vazia, todo mundo vivendo o verão em altitudes distantes.
A lua pendurada no céu como filme saído de um velho projetor.


Silêncio terrível a noite que começa.


Resolvo fazer café para mim mesmo e exagero a quantidade.
Acabo bebendo tudo porque sempre lembro o quanto você odeia desperdícios.
Essa noite imensa, vagando pela casa como menino perdido no supermercado.


Um astronauta poderia ter visto a tristeza em meus olhos, lá do espaço.


Lembre-se de lembrar de mim
em algum lugar do seu passado
flutuando como um beija-flor.


. . .
*


Enquanto você dormia
brilhava a lua sombras se moviam
tocou o telefone voou o tempo
na cozinha estrilavam pequenas melodias.

Você tossiu, se virou
murmurou pequenos segredos de outras realidades .
Lá fora governos caíam, estrelas viravam poeira.
você dormia e ignorava o universo.

Gigantes brigavam do outro lado do mundo;
máquinas rugiam mas sem nos ameaçar
a terra suspirava,
através dos ventos você dormia.
eu tossi, me virei
até fechar meus olhos
para as pressões do futuro.

Enquanto você dormia,
as horas mudavam
e a gravidade tornava meu amor quase abissal.
Cheia de sonhos você dormia
e seu calor bastava prá tudo estar bem.
Eu andei na ponta dos pés, banheiro cozinha copo d´água.
Meu coração batia alto,
minha mente acesa demais.

Seu rosto assumia contornos
mistérios em preto e branco
e lá fora choveu por meia hora
e eu pensei em filmes
lembranças
campeonatos
praias
lugares onde poderíamos ir
esperei que a manhã
viesse prá dissolver tudo isso.
Você teve o sonho mais estranho antes de acordar
fitou o teto com olhos vazios
voltou ao mundo e sorriu prá mim.


. . .
*



Vai, pára um pouco de sonhar e diz alguma coisa bonita a ela, é preciso fazer alguma coisa, olha quanta inquietação, as mãos se agitando, o rosto dramático, tanta angústia, ela e essa angústia pelo que não faz sentido e não pode, só você sabe o quanto ela deseja errado, chora errado, quer aquilo que não tinha nada o que existir nesse cenário de olhos brilhantes e a boca que espera que você a convença que tudo está bem, que vai dar certo, este certo que ela quer e você não, que você sente que é a coisa mais errada de todas que poderiam ser

e então você respira fundo e vai e cria um outro plano onde nada disso é importante, onde ela é a rainha com tudo o que tem de fascinante e que é tão ela e os planos que vão sim dar certo e vai ser o sucesso, e ainda vamos olhar lá no futuro e rir desse agora pequenino que era só dúvida e temor

e por quinze minutos você a traz para o sonho que é seu e agora ainda mais bonito porque compartilhado na troca de sorrisos ah tão perfeita, e seu sorriso ainda paira no ar um instante a mais, o momento ridículo em que você ainda está ali e ela novamente dentro da realidade, as coisas a fazer, quem sabe mais uma vez reconquistar as simpatias dessa coisa velha que ressurge e se esparrama pesada sobre os últimos fiapos do sorriso

e você já não quer, já não sabe dizer mais nada, na janela está escuro e que bom que o dia é feio, que suas respostas agora são feias, que você é legal mas de repente fica assim muito estranho, não sei o que acontece mas ok, prá que arrumar ainda mais confusão, né ?

Tchau, a gente se fala.


. . .
*



Depois de um punhado de dias em que o sol
é rotineiramente arremessado e depois afunda de novo,
é difícil ver sentido na pequeneza das coisas.
A vida é um pouco como essa semana;
os começos cada dia mais distantes,
a qualquer momento começam os finais.
Quinta-feira.
Sempre a sensação de borbulha quase explodindo,
de vai-ser- agora.
Momento tão desarrumado, cheio de ecos
do passado que correm e se misturam com as expectativas do futuro.
Dias inquietos como crianças no escorregador.


*
Gil Brandão - meu paredro

*


sexta-feira, julho 15, 2011

5 Vezes Alexandre Beanes

1

FLOR DE LUZ


Calma flor.
Vai com calma
Que é só saudade,
Esta dói
Mas, não mata não.
Sonha amor.
Sonha com a dor
De sorrir sem vontade,
Que um dia
Já sofri igual.
Mata flor.
Féri com punhal
E marca,
Finge, pois doçura pouca
É desgraça,
E ama como amo na vida
Somente a ti.


2

Fugi das matas e portos...
Encontrei tesão, mulheres e liberdade.
Quem encontrar o amor, mate-o...
Escarneça-o...
E corra... Corra muito...
Ou morra por ele.


3

"...Eu faço samba e amor até mais tarde
e tenho muito sono de manhã..."


É um homem da madrugada.
Cria versos, sambas
E frases de efeito.

Bebe cerveja e tequila.
Uma para esfriar a cabeça
Outra para apimentar as paixões.

Ao raiar do dia
Transforma sussurros
Em doces melodias.


4

Vai amor.
Diz que meus defeitos
São muitos
Que minhas canções
Não te comovem
E a tí nada dizem direito.

Vai amor.
Diz que tenho cheiro de cachaça
Que minhas piadas
Não têem graça
E que quer alguém
Com sonhos mais estreitos.

Vai amor.
Diz que à noite
Sou o que te segura
Que sem mim
O amor não tem cura
E que a minha poesia te acalma o peito.

(Desculpa do amor perfeito).

5

Sou como a noite.
Com o sol descanso,
Faço dormir estrelas
E namoro - de forma quente - a lua.

(São Jorge que feche os olhos).

quinta-feira, julho 14, 2011

cinco pedaços da Elaine Lemos

Presente

Fui ter com o futuro debaixo de uma lona.
Enquanto uma boca vermelha e uns dentes
dourados proferiam previsões que eu não ouvia,
sentia um cheiro de chocolate,
um cacau de ar, despertador desta saudade.
Saí derrubando cadeira numa pressa.
Caloteei o que não viria.
Um caminho muito conhecido passa
por mim rapidinho de trás para frente.
Continuo correndo, o peito chiando vontades,
tentando alcançar meu hoje, embora eu saiba
que já fizeste as malas.


Loquacidade

Invento palavras nas lacunas das conversas.
Abismo meus mistérios.
Compreendam meus silêncios.


Safra

No jardim das fadas boas
há sempre um nariz carregando verruga
chovendo tristeza nas sementes.

Em um outono azul, colhem-se os frutos.


Ester

As irmãzinhas
a vigiam das alturas.
Tremeluzem
vozes dizendo que a amam.
Piscam piscam
anos-luz de saudades.
Caída e solitária,
contempla a noite clara.
As irmãzinhas
lhe brilham as lágrimas.


Quase 70 musicais

sempre que tocaste a minha gaita
com teus dedos ditos inocentes
e em ela puseste a boca incauta

sempre que quiseste que tua flauta
gemesse doce nas minhas mãos
cantasse o canto da minha língua

jorramos juntos as notas mais lindas
num ostinato, quase setenta vezes
soamos, suados, nosso uníssono gozo

quarta-feira, julho 13, 2011

Marina Rabelo

~ 5 anos do B7C: 5 poemas ~


vi uma antiga história de amor
atravessar a rua

eu continuei meu caminho
de pedras e beijos adormecidos




jam session

deixo o som
do teu soul
me tocar
jazzliricamente

sôo azul
como um blues




revolto

preciso do caos
da desordem dos sentimentos
de um soco no estômago
seguido de um beijo
um lamber de feridas
para amaciar a dor
preciso da confusão
de ser o que for




etéreo

cobri-me de rosas
colibri-me




Não limpe os pés antes de entrar

eu vi num blog por aí:
"seja bem-vindo, mas limpe os pés antes de entrar"...


Não limpe os pés antes de entrar

Entre com a lama, a grama, a poeira
e a areia do mar.

Entre com o barulho das ruas, do samba
e dos versos do poeta de mesa de bar.

Entre com o cheiro do asfalto, do ônibus lotado
e do pastel de carne com suco de maracujá.

A porta está aberta,
pode entrar:Eu quero minha alma suja
e feliz.


Marina Rabelo - Versos deLírios


{Obrigada a todos! Encerro aqui minha participação.}


da Lubi Prates

E, o fim.

fui-me antes que o início tecesse a si mesmo
você disse e
eu calei que não sabia mudar meu não-estar

e o início já era o fim
como mares
que minhas lágrimas não pingam

os olhos secos
pela poeira do encanto
que liberta-se
do que invadiu
num instante
num piscar de olhos
dos moços anônimos
do tempo
dos seus
que eram meus
e que já não são

e já não são a mesma nota nossas vozes
e não são uma nossas carnes
nossas almas
agora
faltando metade
que é você
e
não sou eu

meu coração
canta adeus porque acabou
eu continuo
e verão
quem não sei e quem não sou
o que
se dá de

mim

inabitada

meu coração
conta a deus que acabou
sem crer
e continua pulsando intenso
enquanto
tento
trans[cre]ver
o fim

o fim imposto
que verso
sem querer
renegando cada linha
que se faz nó na minha mão

sejamos nós atados com a vida que ainda resta
sejamos razoáveis, ao menos

e deixa

a solidão
talvez
já me acostumou
já se acostumou com meu ser só
estado

independência

mas você ainda vai sentar
e esperar o amor que virá
e que não fui eu

meu coração despede-se
despedaça-se
sem sangrar:

adeus amor
meu

*

Para Raimundo Neto

e do que era antes
(apenas
caminhar pela casa
descalça
sacudindo os cabelos)
agora
o nunca
minha voz
rompendo teu silêncio
as palavras
como um rasgo na garganta.

- me salva.

mas, do quê, Lubi?

- da loucura.


*

Ela mesma, a Poesia

é despertar e enxergar além de o ou a
visão audição olfato tato paladar.
entregar-se para o sentir e perceber.
a Poesia é aprofundar-se
e procurar em si palavras
e substitui-las substitui-las substitui-las
perdê-las e insistir em
re e construir até que
perfeitamente.
e cuspir sem silêncio o que
a Poesia.
cuspir sem silêncio
e não implorar ouvintes
mas quando
seduzir e penetrar e abusar
porque a Poesia é
acariciar todo o sofrimento em
não esquecer a obrigação de
unir-versos.

*

Janeiro, 25.

era dia de
amargar com seu cigarro
com o gosto de na sua boca
nada daquele gosto menta
infância pureza e ou castidade
que freia defende
das pastilhas baratas
vendidas pelos garotos no semáforo
Paulista X Augusta
quando não limpam para
brisas ou pedem.
no nosso meio-beijo despedida
o não saber se voltará ou esse verbo
esse mesmo verbo
na primeira pessoa do plural do futuro indicativo.

era dia de
desvendar sem mapas
nossos caminhos espalhados pelo corpo
em todos os anos até agora e aqui
nas inúmeras tatuagens
se fosse calor de quase nudez e suores
os trinta graus e mais
meu olhar bem perto
a pele os poros e pêlos
com calma típica interior
que é meu avesso e não deixa de
enquanto citássemos dizendo billy corgan
suffer my desire for you - suffer my desire
ou qualquer verso que fosse
intensidade a nossa.

e era dia de
a noite cair alaranjando
os olhos da cidade adormecendo lentos
entre os barulhos de poetas ama-dores
na mesa com cervejas e
as buzinas alardeando por outros
nosso admitir não querer e ser detalhes
nos meus gestos significando sempre
sempre um demais mesmo quando estátua
e enquanto caminhássemos apressados para
o salto o nosso e estilhaçar-se
na realidade absurda
tentar prender as últimas ilusões
linha frágil entre os trilhos e a plataforma do
consolação, tentar mas não.

*

Sobre mar de carne e osso

ele contorna meu corpo com o seu
por instantes é mar:
água e sal
- não só os olhos desse azul
                que acinzenta-se quando tempestades
atrás de lentes escuras.
vertigem e me entrego
- sei a impossibilidade
de avessar naturezas conturbadas:
não há margem ou poro desafetado
                                pela penetração
perturbação de língua respiração e pêlos
ávidos por afogar sentimentos
                                barriga dentro e fora
então acredito em qualquer gota antes
como prenúncio de essa inundação
porque toda água nasce e vibra
                                invasão apenas
para após refluxo, a distância.