quarta-feira, fevereiro 28, 2007

preciso de um vendaval
pra escancarar minhas janelas
e refrescar minhas entranhas.
preciso de um maremoto
pra arrebentar esses elos
e me levar pro infinito.
preciso de um solstício
pra alimentar minha alma
e abater os meus erros.
preciso de uma miragem
pra refazer minha busca
e relembrar quem eu sou...

terça-feira, fevereiro 27, 2007

transpoema

vai que de repente,
numa esquina virada,
um pouco desse quase tudo,
faz mais desse quase nada.
vai que de repente,
um avião de papel
leve-me livre daqui,
um arco-íris de aço,
o passo de um gigante,
um super-herói de mim
voando sobre a Babel,
Dom Quixote tupiniquim.
Ah, como ia ser legal...
tudo mais perto da gente:
puxa esse mar mais pra cá!
baixa esse sol mais um pouco,
e deixa rolar qualquer melodia!
veja só, que coisa de louco,
o mundo parado no ar,
e a gente fazendo poesia.
ainda vai chegar o dia,
em que tudo vai ser assim,
do jeito que eu quiser:
eu em você, você em mim,
prontos pro que der e vier.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Enluarada

Fio da navalha
Tesoura amolada
Corte certo

(estanca a realidade)

Segue noite a dentro
Desejo aflora...
Digitais espalhadas
Registrando insanidades
(mundanas).


Uma noite sem lembranças
Curta e ordinária...
Em luar de igarapé

A matita pereira gargalha.

domingo, fevereiro 25, 2007

NÃO QUERO ESCREVER UM POEMA

Eu não quero escrever um poema
quero esse tesão tatuado em meu corpo
dispenso abraçar o lápis, logo
eu quero é te agarrar pelas pernas
braços, penetrar-te língua, plexo, ventre
ventar teus ouvidos, ardê-los
cada pêlo, outro arrepio
corpos em convergência, único objetivo
perder os caminhos
que já não fazem sentido.

sábado, fevereiro 24, 2007

VAMPIRO

Me perdoa
por te dar prazer
nessa busca que faço agora
(busca inútil...
busca inglória!)


Me perdoa
por te fazer feliz
ao buscar em teu corpo
aquela mulher
que não me quis...

Me perdoa, te peço
por querer afogar em ti
meu dissabor
e no processo
te enlouquecer de amor.

Me perdoa por amanhã,
quando eu te deixar...
deitada, nua e só.
Só a encontro à luz da lua.
Por isso me escondo do sol.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Cinzas

Ser feliz ou ter razão?
Realidade ou ilusão?
Afinal...
O que é real?
O que não é?
Folia de carnaval
Em meio à melancolia
Quatro noites de alegria
Alegria sem razão
Sem noção
do perigo
da Realidade
Baranga nua
crua
injusta
- Socorro!!!
Fujo dela mesmo!
Afinal
quem vive feliz
vive de ilusão
Foge da Realidade
Foge enquanto pode
Foge agora
Aproveite bem essas quatro noites
Depois
Você vai ter que ficar
com a Realidade
daquele jeito
De qualquer jeito
você vai ter que ficar com ela
Foge agora
Viva a ilusão
Que é pra essa baranga
lhe parecer catável
Viva a ilusão agora
Foge agora
Depois
Você cansa
e se rende
Aproveite bem essas quatro noites
Depois
Só sobram as cinzas

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

até que não seria
de todo mal
se o dia acordasse
e o céu me mostrasse
que as nuvens são de açúcar
e os pássaros, de estimação.
não seria de todo mal
se esse clima mudasse
ou a chuva só molhasse
o meu pensamento,
ressecado e sem expressão.
não seria de todo mal
se o alívio chegasse
e morada fizesse
dentro do meu coração.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

auto-folia

a minha porta estandarte
não se abre comigo.
ela pensa que o mundo
é aquilo,
que gira em torno
do seu próprio umbigo.
queridos companheiros: resolvidos uns transtornos, gostaria de vos apresentar minha nova casa nova. muito grato pelo carinho, sempre!
www.traversuras.blogspot.com

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

verdade

Eu roubo verbos
Aprisiono
Em regime de cárcere privado.
Veto
Todas as possíveis rimas
E visito-o
Com frases lembranças.
Em seus murmúrios noturnos
Embalo minhas noites mal dormidas.

Aprisionamos-nos
Eu e ele
Nesse cárcere poético
Nessa rima vã...
Na melancolia branca
De uma poesia que nunca virá.

domingo, fevereiro 18, 2007

SENÃO DO POETA

Nada esconde o senão do poeta,
a janela aberta
à inconstância do mundo
e aquela ânsia no fundo
de retratar o que o vento revela:
o azul escuro da noite
que o sol amarela.

sábado, fevereiro 17, 2007

CIRCO

Já fui equilibrista.
Entre sim e o não
dançava...
dançava...
abraçando o vácuo,
desafiando o chão.


Já fui domador de leão.
Ah, eu era temerário!
Chicote na mão,
na outra, coragem.
Medo: palavra
sem passagem
pelo meu dicionário!

Já fui, creiam,
trapezista dos bons!
Imerso num salto infinito
rumo ao vazio
onde reside o nada...
sem gosto,
sem cheiro,
sem sons!

Homem bala? Ha!
Isso foi moleza!
Medo da morte?
Que nada, afinal,
a Dama de Preto
nunca foi surpresa.
(Há quem diga até ser
a única certeza!)

Já fui gorila e, pasmem,
até mulher barbada.
E enquanto meu corpo
quedava, combalido,
dentro de uma jaula,
minha mente, velozmente,
pelos céus me transportava.

Já fui até mesmo
dono de circo
por uma ocasião.
Mas nunca me fascinou
o cheiro do dinheiro
e sua intrínseca confusão...
definitivamente não!

Hoje sou palhaço.
E só.
E enquanto riem de mim,
durmo com as lágrimas
no meu lençol...
e em meus sonhos
vive a pergunta:
"Quem ri por último
ri melhor???"

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Só mente

O ser humano mente
de forma compulsiva
e inconseqüente
principalmente
Ele esconde o que sente
Guarda tudo num cofre
E depois não entende
por que diabos sofre
E, mesmo assim, segue em frente
Como se a culpa
não lhe fosse pertencente
Como se fosse vítima dos demais
que tanto mentem
E nunca réu
E mente mais
E busca o céu
E quer ter paz
Mas não os faz
por merecer
Só mente
por esporte
por amor
ou por prazer

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

eu quero chegar
mas desconheço
o destino do viver.
abraço os sinais,
toco os corpos,
cheiro os sentidos.
tropeço,
esqueço,
reviro.
eu quero chegar
mas desconheço
o preço do saber.
absorvo os tempos,
engulo as pedras,
desarrumo as malas.
choro,
sonho,
sorrio.
eu quero chegar,
mas espero
não perder
a paciência...

terça-feira, fevereiro 13, 2007

dor in

dói em mim essa tarde,
do in, sem dó,
cada vez mais,
de priori a pior.
arde em mim essa tarde,
e ai de mim,
pobre madame,
silêncio a passar vexame
nessa treva que se atreve,
escura, beijando a neve.
frio é o corte da navalha,
ou outra coisa qualquer
que orvalha,
nessa tarde alarde
que arde mas não falha.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

verbo identidade.

Vou além
Num vôo raso
E rasteiro
Levanto poeira
Provoco maremotos
Desperto fantasmas
Interpreto miragens...

(O que quero é acumular capítulos)

Meu nome é coragem
(intérprete)
Meu verbo é ir
Sintonizo
E pé na estrada,
Porque meus sonhos são bons.

domingo, fevereiro 11, 2007

C'AIS

Ah, Beira do mar,
Que me fala do amor
Nessa hora do sol se pôr...

Há um buraco no céu
Amarelo
Há um bucólico ao chão
E a maré logo sopra sua brisa
Um tanto fria, um tanto leve, um tanto boa
Suave marca do fim de um dia
Passado assim, meio à toa
Cantado assim, meio ausente
Na lembrança de um sol, que fora quente
Mais ainda queima
Meio assim como minha mente
Que teima, que teima, que teima.

sábado, fevereiro 10, 2007

A minha convidada de hoje é a Ana Paula Mangeon, de uma prosa e poesia irretocáveis.
Uma rara sensibilidade e finíssimo trato com as palavras.

Aprendi a amar o que ela escreve há uns dois anos atrás, e desde então me é impossível viver sem ler o que ela escreve.
Com vocês, Ana Paula Mangeon:

Das coisas que a gente sempre sabe.
(revisto)


A gente sabe, a gente sempre sabe
quando a coisa está bem ou está mal.
Quando o olho perde o brilho, quando o sorriso ilumina.
A gente sempre sabe quando a mão quer ou não a mão,
quando a presença é ou não mais é imprescindível.
A gente sempre sabe o limite da paixão,
onde transmuta em carinho,
quando vira só admiração
e quando já estava mesmo tudo perdido.

A gente sabe, a gente sempre sabe.

A gente sempre sabe a hora de avançar e a hora de recuar.
A gente sempre sabe reconhecer subterfúgios e estratagemas.
A gente sempre sabe o pulo do gato e a rota de fuga.
A gente sempre sabe o início, o meio e o fim.

A gente sabe, a gente sempre sabe.

E a gente sempre sabe que às vezes a gente corta,
tenta arrancar, lava com álcool e removedor,
mas a coisa fica ainda ali, incubada, latente,
aguardando uma distração para se manifestar.

São velhas conhecidas as mentiras que a gente inventa.

A gente sabe, a gente sempre sabe quando a fonte seca
e quando ainda há água para nossa sede eterna.


Mais dela: http://www.anamangeon.mus.br/
Mais da poesia dela: http://www.anamangeon.mus.br/versos/

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Das nossas trilhas

Hoje, eu tenho o prazer de colocar aqui um belíssimo poema de uma conterrânea minha!
Com vocês: Luzzsh!

(Adoro dizer isso: Luzzsh! Até pronuncio em voz alta enquanto escrevo isso!) =P


Viver pode ser qualquer coisa
de uma flor lilás a uma azeitona.
dentre tantas possibilidades
pode ser assim, comezinha,
estrada débil que guarde em seu final:
simplesmente a morte-fim-ocaso;
portal austero e laureado para outra vida,
uma passagem só de ida para o céu
(ou outra escala menos aprazível -
esteja atento ao seu bilhete).
Viver pode ser ainda leda seara que,
criando-se conforme nossos passos
termina por nos levar de nós, a nós.
Viver só dói quando é com afinco.
Se não doer nunca, preocupe-se.
Se jamais latejar, espreite, vigie-se;
talvez você sofra de um mal comum
chamado “medo paralisante de errar”,
também conhecido como “estagnação
no meio termo”. Cuide da boa saúde
do seu caminhar, sem muito medo,
(um pouco, é sinal de bom senso).
No fim, sofrer são apenas exercícios
necessários para pôr a alma em forma.
e talvez afinal, não conte o chegar
conte é a paisagem apreendida
a duras mas memoráveis penas
que farão de ti o que serás. Ou não.
Alegrias? Haverão milhares, lancinantes,
mas é preciso merecê-las. Esteja pronto.
Via de regra, essa picada a que chamamos vida
se abre mesmo é na foice, na garra, sozinho.
Mas não se preocupe (tanto)
alguns outros irão ao teu lado,
assim como tu, a esbarrar em erros e acertos.
Estes poderão dar-te abrigo em dias
de cansaço, desalento, preguiça ou outros
desperdícios a que tende o ser humano.
Estes teus iguais lembrar-te-ão, na hora exata,
que somos sós, mas que estamos juntos.
Estarão por aí, e revelar-se aqui e ali quando
invocados por sua alcunha secreta: “amigos”.



A maioria que visita este blog já deve conhecer Luzzsh! Mas, para os que porventura não conheçam, prestigiem mais escritos desta poeta maravilhosa em:
lumevagante.blogspot.com

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Adoro o que a minha convidada escreve! Tem firmeza nas palavras. Conta sua história de forma simples e certeira. Não costuma escrever poesias. Mas achei que seria bacana, e ela topou! E chama-se Juliana Marchioretto. Seu blog, http://demasiadamenteinconstante.blogspot.com/.
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E quanto mais você procura
Mais ele se assusta e foge
e quando você senta e descansa
Ele te puxa pela mão e te engole
Trazendo sorriso bobo
Pensamentos nas estrelas
Pés pisando em nuvens
Riso junto com choro
e depois da chegada dele
O mundo se enfeita todo
E eu que era sozinho
Agora tenho um consolo

terça-feira, fevereiro 06, 2007

(...)

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é,
Sentir, sinta quem lê !
(Fernando Pessoa)

Caros companheiros, por motivo de excesso de esquecimento, acabei retardando o meu convite ao companheiro Poeta, e, por fim, nos desencontramos. Para não passar em branco, e, mais ainda, por respeito aos companheiros e leitores, eis aqui, no adiantado da hora, um pequeno regalo desta Pessoa. Desculpas, e, muito grato!

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Ela a Czarina.

Rendo-me totalmente a maestria de Czarina.
Merecedora de todos os confetes.
E dona de uma Sabedoria única e de improviso.
Com vocês,
Czarina!
Aquela que chamo carinhosamente de preta.

.......................
Basta de ser reflexiva
poça d´água
ainda que com liberdade
para alargar espelhos
sem círculos concêntricos
se transformá-los em não mais
que coloridos confetes de realidade
há que ser
matéria que queima
que flameja, chamusca, que chama
até que não reste mais sobre o chão
que a poeira disforme, calcinada e branca
e que um dia desponte
uma tulipa rósea
do lugar onde um dia
estivera minha anca.

domingo, fevereiro 04, 2007

Bicho Poeta Gente

poema é coisa que se faz,
que se nasce,
que se jaz
nas páginas virtuais
da nossa imaginação...

poema é coisa que se inspira
que se expele
que se põe
em palavras versos
encaixes diversos

poeta é bicho que poesia
atrofia se não fizer
ao menos por dia
uma rima qualquer

poeta é ser pensante
emocional inteligente
bicho poeta gente

Clauky Saba (bicho-poeta)
^^^^^^^^^
Ah, o que dizer da Clauky? Ela é simplesmente o máximo, uma figura ímpar, daquelas espécies mais queridas! Excelente poeta e organizadora do Movimento InVerso (que a cada edição muda um pouco mais minha vida pra melhor) em conjuto com os outros integrantes do grupo musical-poético-performático-fantástico Saba Sauers. Uma "poetamiga" (pegando emprestado a expressão dela) que desde o primeiro contato se fez presente no mundo real, o lugar ideal... pra sonhar. Enfim, para aqueles que AINDA não tiveram a oportunidade de presenciar sua poesia, conheçam mais preces-mundanas-sacanas-bacanas que a autora do antológico verso "Deus me livre/ eu sou poeta" emana em:
http://arteemtodaparte.blogspot.com/

sábado, fevereiro 03, 2007

chu( g )v( o )s( z )o

moacircaetano & alhi

Fazes tempestades acontecerem
Em meu humilde céu...

Mandas a calmaria embora
E tudo se embola
Esqueço quem sou
E me torno no que queres.

Fazes momentos surgirem
Da ausência absoluta...
Fazes que queres a mim...
Fazes o que queres de mim

E quando finalmente chovo
Vens e me estia de novo.

És chuva rara
Chuva escassa
Mansa e doce
Serena e fugaz

És garoa e tormenta...
Sereno... madrugada.
E minhas ruas dormem molhadas!

E enquanto choves
Existimos.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Assombração*

São Paulo, 6 de junho de 2005

Anteontem
A Morte passou perto
de mim
Vi fúria em seres tranqüilos
e desespero nos demais
Eles viram a Morte passar
em suas frentes
Eu?
Nem vi!
Mas, pelo visto...
Não era comigo...