sábado, março 31, 2007

RENDIÇÃO

Dentro de mim mora um velhinho.
Oitenta e tantos anos.
Sem esperanças, sem planos.

E quase todo o tempo sozinho.

Vasculhador de lembranças antigas,
o hoje é sempre o seu passado.
Buscando sempre desesperadamente algo

que valha a pena.
(Afinal, sua alma não é pequena...)


Deita-se cedo, muito cedo
e acorda mais cedo ainda.
Preenche seus dias com o medo
do destino que se avizinha.

Não lembra o nome de seus netos
e já se esqueceu
de como ser feliz.
Suas frases não se terminam,
seus sonhos são secretos...
e a cada batida do coração já velho
não morre por um triz.

Dentro da minha pele ainda jovem,
ele se debate.
Busca espaço pra crescer
e, apesar da dor nos ossos,
está sempre pronto pro combate.

A cada dia, ganha uma batalha.
E instala seu deserto solitário
em mais um pedaço de mim.
Eu, medroso e salafrário,
bato em retirada
à simples visão de sua armada.
Meu não é sempre um s(f)im.

Dentro de mim mora um velhinho
que já não tem paciência nem sorte.
Por isso abre as portas pra dor
e convida a morte.

quinta-feira, março 29, 2007

O anjo cego

Dia desses, eu vi
ou sonhei
ou imaginei
ou delirei mesmo - pois estou louco
Um anjo
Caminhando em meio a multidão
Um anjo entre nós
Como se fosse um entre muitos
O que estaria fazendo entre nós?
Zelando por nós mais de perto?
Zelote fiel?
Um caído?
Anjos caem...
É fácil cair!
Anjos caem...
E pensar que
aqui embaixo
achamos que é foda...
Sinto que poderíamos
Poderíamos voar
Se não fôssemos
tão pesados...
Por isso, caímos
Mas...
Por que anjos caem?
De qualquer forma...
Era um anjo!!!
O que eu vi...
Droga! Eu vi!!!
Mas...
O que estava fazendo entre nós?
Por que não estava voando?
Suas asas estavam ali...
Inerentes a ele
Imponentes
Mas...
Inertes
É como se não as sentisse
Por que não voa?
É como se não as tivesse
Por que não faz uso de tuas majestosas asas?
É como se não as soubesse
Por que continua aqui, anjo?
Tem asas, não tem?
É como se não as visse
Não vê?
É cego?


Escrito em maio de 2005

quarta-feira, março 28, 2007


você:
esse
vestígio de vida
que a minha alma
suspira
[ávida!]
repleta,
enfim...

terça-feira, março 27, 2007

cantilena para uma noite fria

quanto mais escrevo,
mais pálida a página fica,
a perguntar ao incenso
o que tanto silêncio,
em signo, significa.
quanto mais atrevo,
mais a treva aumenta,
e a coisa vai ficando
cada vez mais cara,
cada vez mais séria,
ah, quem me dera
fosse Guanabara
essa minha Sibéria.

segunda-feira, março 26, 2007

banho

Verbo ensaboado
Teimoso e não perfumado
Faz de mim morada certa.
E me deixa assim:
Suja e desconexa.

Quero banhar-me de rima branca.

domingo, março 25, 2007

EMBAIXADINHA COM A CALCANHOTTO

Te pesquei pelo calcanhar
de uma canção
popoética
balãozinho em mim
matei no peito
craque meio sem a bola
domino com tal sem jeito
que digo: coração
ao rolar o poema
quem te deu o direito?

sábado, março 24, 2007

CÂNCER

Deixou o pedaço mais gostoso da vida
pro fim.

O gato veio e comeu!

quinta-feira, março 22, 2007


Amar não é errado
Amar é errado
Amar errado
Amarrado

Amar é mais que gostar
Amar mais gostar
Amar gostar
Amargor

Desde sempre é que insisto em procurar um amor
Desde sempre insisto em procurar amor
Desde que insisto no amor
Desisti do amor
Desamor


Inspirado neste meu escrito antigo.

quarta-feira, março 21, 2007

e assim, irrevogavelmente,
você invade meu íntimo,
desloca os meus extremos
e me tira desse mínimo
que eu costumava viver...
e assim, consensualmente,
você delibera meu destino,
reinventa os meus sorrisos
e me interpreta esse mundo

que eu preciso reconhecer...

terça-feira, março 20, 2007

adeus você

de você em mim
nada mais resta,
é chegado o fim
da festa,
nossa rave, quem diria,
virou seresta.
tombou em silêncio
a última árvore
da velha floresta,
nada mais em mim
se manifesta
quando te vê,
tirei seu nome
da minha testa,
au revoir, adeus você!
não insista,
siga outra pista,
não vou mais
gastar o meu latim
game over, do in,
hasta la vista.

segunda-feira, março 19, 2007

Cativeiro

Vejo-me pendurada
Em um velho guarda-roupa
Rodeada de naftalina
Por todos os lados
Percebo que engraxam os sapatos
Todos os dias, mas, não usam...

De onde estou observo
Todas as manifestações
E todos os arroubos de paixões...

Desejo ouvir música
Sentir o cheiro de vida...
Parei de emitir sons
E tento ouvir através do silêncio.

O corpo dói,
Sinto frio,
Durmo e acordo,
Ao mesmo tempo.
Sonho com um resgate
Que nunca virá.

domingo, março 18, 2007

GEMIDOS DE COR

I. Azul

..Só se saberá céu
..se for azul no fundo.
..Só se saberá mar
..Se for azul profundo.


II. Vermelho

..Só se saberá rubi
..se for vermelho ruboroso.
..Só se saberá sangue
..se for vermelho gozo.


III. Ciano e Magenta

..Não sei se esse ano
..meu chão será azul.
..Só sei que minha imagem, talha
..vermelho sentimento nu.

sábado, março 17, 2007

DA DINÂMICA DOS CORPOS QUANDO CAEM

Um corpo não cai por acaso!

Um corpo cai por bala
por faca, por explosão
às vezes é por uma pedra
que um corpo cai ao chão

Às vezes epilepsia
um início de derrame
às vezes por uma vingança
por uma mentira infame
um corpo cai quando a vida
se lhe rompe o liame

Um corpo não cai por acaso
algum motivo haverá
seja por febre, maleita
seja por tanto amar

Um corpo cai, e o barulho
é quase insuportável
barulho, seco, imundo
barulho de destino imutável
um corpo cai, e logo
a imprensa o sabe!

Um corpo cai, e que razão
seria suficiente?
que razão teria a morte
pra se instalar na gente?
como a vida que nos habita
súbito se volatiliza?
nos abandona de repente!

Um corpo caiu ao chão...
foi o meu!
ai, quem me dera
eu não ser eu!

quarta-feira, março 14, 2007

eu aceito
esse ar fresco
que você me traz.
eu estou pronta pra
sentir o que meu
coração jamais
foi capaz...

terça-feira, março 13, 2007

sol você

só você
pode ver
setembro
nesse abril,
só você
pode ver
o que
ninguém
mais viu
em mim,
só você
pode verde
em meu jardim.

segunda-feira, março 12, 2007

em minha noite

Meus versos amanhecem
Enquanto durmo
Deleitam-se ao meu lado
Brincam com meus cabelos
E me fazem quase acordar...

Amanheço em manjedoura
Lírica de verso e prosa
Banho-me no deleite poético
Alimento-me de rima e pranto.

Não sou vespertina
O pôr-do-sol assusta-me
Com seus crepúsculos...
Contenho-me e chego a lagrimar.
Renasço ao anoitecer.

Sou noturna
Me visto de lua e a noite me basta.
Sussurros e delírios me acompanham
Devassa é a madrugada
E por dentro fervo e me desfaço.

Permito-me anoitecer todos os dias.
A noite é minha morada.

domingo, março 11, 2007

SAD-OH-YEAH

ata-me
hmmm
mata-me agora
antes mais nada
depois me - arre!
- bata
que abro
a perna porta
morta
de prazer
por ver-te
verter-se assim
on & in
grata

sábado, março 10, 2007

Hoje vou apresentar a vocês minha querida amiga Saramar.
De Goiânia, assim como eu.
Afinal de contas, o Planalto Central, com suas árvores dançantes (como já dizia Cora)
e seu sol escaldante, também é lugar de muito verso e sentimento.

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SÚPLICA

Ouve o meu lamento, amor.
Ouve o silêncio que me cerca.
Ouve o ruído das minhas mãos cansadas
de buscar inutilmente tua pele, tuas mãos.

Vem, amor, vem sentir no meu peito
um vaso inútil e vazio, cheio apenas das
dores do meu coração exausto de
tua ausência.

Vem de volta, com novas estrelas, aquelas
que prometeste colocar nos meus olhos,
luzeiros perenes do nosso amor para sempre
e que se apagaram de súbito quando saíste.

Vem, trocar os teus sentidos com os meus
como naquelas penumbras lentas, onde nos
perdíamos em alma e carne, livremente pecadores
no nosso amor menino, carrossel de delírios.

Saramar Mendes

http://abrindojanelas.blogspot.com
http://flanarfalares.blogspot.com
http://lidosevividos.blogspot.com

quinta-feira, março 08, 2007

Tempestade dos Tempos

por Andressa Pacheco


Lágrimas são salgadas
Ilusões são doces
Misturam-se com outros sabores
E confundem o paladar.

Não é possível cultivar Rosas em jardins secretos
O sol chega e as sombras que surgem
Revelam o caminho.

A Tempestade dos Tempos
Chegou doce e salgada
E foi acariciar a Rosa sedenta
E desidratada
Devorada por formigas faminta
Que sobejam sonhos doces.

A Tempestade dos Tempos
Chega de tempos em tempos
Como a música surda
Para animar os ouvidos mudos
Da Rosa murcha

Luar súbito atinge a flor
Que sangra remota e ramifica sua dor
O Sol e a Lua personificam um enlace
E a Rosa pisoteada brota da noite e renasce.

Sobrevoa o jardim secreto
Um bando álacre de pássaros
Nem mesmo o canto estridente
É capaz de perturbar a maldita Rosa
Que se faz de santa
E brinca de Bela Adormecida.

-A espera é amarga!
Alude o sol desgovernado e perdido
Que continua a iluminar os sonhos escuros
Da Rosa acalentada
"Ainda que tarde o seu despertar"



Ah... Gosto do estilo desta moça... Andresasa Pacheco é uma das escritoras-de-blog com a qual tenho contato há um bom tempo. Seus escritos possuem força --uma força descomunal--, mas não deixam de ser belos. Este que ela me passou é um dos que mais gostei quando li. Ela escreve mais em prosa, mas me presenteou com este poema.

Eu tenho o prazer de compartilhar este presente com vocês, leitores! =)

E pra conhecerem mais dos escritos dessa menina, visitem:

http://estatuadelafuente.blogspot.com
http://o-deposito.blogspot.com

(Os blogs dela têm umas frescuras de tela, eu sei, e nem todo mundo gosta disso... Eu mesmo já enjoei de pedia a ela pra tirá-las... Mas, o conteúdo escrito vale a vistação!) =)

quarta-feira, março 07, 2007

o amor finge chegar pela janela
de passagem sem jeito, sem trela
com a brisa, traz sua alva poeira
sujando os móveis antigos do meu coração menino
com ele vem a lágrima que me rasga o rosto
e as longas horas de desprezo do sono
tranco portas e vidraças da alma
para que meu interior frágil não invada
corre seus pés descalços no sentimento incerto
me traz à alma os erros mais corretos
e constrói um leito de cores e flores
fingindo libertar de vez todas as dores
o amor chegou com uma opção plausível
me convencendo de sua verdade impossível

Bruno Cazonatti
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Ele é uma doçura em forma de letras...
E você pode conferir todas elas
no http://acidopoetico.wordpress.com .

terça-feira, março 06, 2007

Diovvaneando

O BICHO
Sete cabeças, sete crânios.
Sete cérebros, sete chaves.
Sete caminhos, sete enigmas.
Sete panças, sete trancas.
Sete dados, sete destinos.
Sete pessoas, sete Poetas...
E um piolho-puto; que pariu, sete lêndeas.

Lêndeas paridas:

I - INDOMÁVEIS
Palavras parecem domadas
na imensidão da fazenda dos dicionários
, mas quando soltas nos campos dos neurônios alados do pensamento
são cavalos selvagens
galopando linhas (EletrodescarDIOgramadas)
de horizontes
Desconhecidos.

II-CUIDADO COM EXPOSTAS PONTAS
Na ponta
de todo alfinete
equilibra-se
o
ai,
de uma dor
futura.

III-ECO-LÓGICO
Enquanto
ainda criança,
urino no pé das árvores.
É que tenho,
secreta esperança
em ver
andar as raízes.

IV-PELADA
Um Pé
descalço
faz
gol.
- Dois
chinelos,
também.

V-CISCADOR DE MUIDEZAS
Queria saber onde
germina-alastra,
a raiz da vida que não rompe
da semente a casca.
Isso pode, vale-me, migalhas de nadas.
Mas não perco o vício de engravidar
possibilidades.

VII-CALMARIA
Já tive pressa.
Agora só,
rio, manso, enquanto
pesco paciência
no gravitar,
de nadadeiras postas
ao reflexo do anzol.

VII-PAPAGAIADO
Não me levem demasiado a sério.
É que um vento antigo, traquina e moleque,
desses de empinar papagaio de taquara e seda no azul,
tem despenteado o leque no abanar meus pensamentos.
Crianças acenam, de horizontes para mim. E meus cabelos grisalhando,
estão alegres-enrolados, nas linhas da inocência sem cerol,
que eu pensei perdida, nos cacos de vidro da caminhada.


Meu convidado é um Poeta arretado de quem eu sou fã. Ele vem das Gerais e costuma fazer saraus ao ar livre, onde poemas são retirados de garrafas presas nas árvores. Ele mora num sítio, e extrai dessa natureza, de toda a poesia flutuante, belos poemas. Desde que o encontrei, acalento o sonho de um dia visitá-lo, e no chão de terra batida das Minas, fazermos versos, cantorias, regados a cerveja, a Xangai, Elomar, Vital Farias, entre outros. Diovvani Mendonça é um lavrador de palavras, e semeia poesia aqui:

http://www.diovmendonca.blogspot.com/

Grande Dio, obrigado meu velho!

segunda-feira, março 05, 2007

Nuvem de primavera

A seriedade cinzenta dos estudantes
Duas semanas antes do vestibular
Ocupa as horas de austero marchar
E mancha as flores exuberantes

Eu; quero meu sol de primavera,
O brilho amarelado no arvoredo
As tardes de passeios sem medo,
Casais empertigados nos bancos de outrora

Rojões para os conservadores!
A transgressão juvenil –
O gato engoliu,
Atulhou-se em implantados amores

Carro, novela, dinheiro e umbigo.


Foi quase no apagar das luzes.
Mas Cza salvou-me.
E os presenteados somos nós e as belas palavras são dele, Nelson.
:*

domingo, março 04, 2007

No Dia Em Que Aprendi A Usar As Maiúsculas (trechos)

"A necessária simplicidade havia lhe custado tudo o que tinha. Não os olhos da cara, mas o vermelho do sangue. Se sentiu um pouco tonta, talvez anêmica, mas só por que era dada a dramas. Então voltou ao doutor para perguntar se tinha recebido o tipo certo de ser simples. Será que existiria simplicidade A, B positiva ou negativa? A dela, a tanto custo, tinha que ser universal."

"Sem tempo para chorar ou pedir socorro, ela se divertia dando a cara a tapa e revidando com sorrisos. Assim passavam as horas, as dúvidas até o próximo abraço. Era melhor que fosse assim, era tão otimista que agradecia sempre mesmo antes de ter, porque sabia que só de ter amado ao menos uma vez, era daquelas raras pessoas que merecem ser escolhidas na hora do pique."

Berlim.T

^^^^^^
..perto do mar aqui do rio e através da marla conheci, berlimdamente, tati (bitati), berlim.. dias incríveis, noites mais, sorrisos, momentos momentos, momentos ainda, por vir, outras pessoas, mais.. coisa de menina.. coisa.. de moça moleca cheia força, de dois pontos, clamações atuais e exclamações. Conclusões? tirem as suas, eu: adoro!
http://www.fotolog.com/berlim_t/

sábado, março 03, 2007

ROTINA

Embrulhado em papel de pão,
o amor se desfaz, quebradiço,

ao contato medroso
e desastrado
dos meus dedos.

Olho o miolo
retirado por minhas mãos dietéticas.

Medo das calorias....
É o melhor desse amor.
Mas não será saboreado.

Fico apenas com a casca
bela e crocante,
porém quase sempre
quase toda desperdiçada,
em forma de farelos
sobre a toalha quadriculada.

Toco com os lábios a superfície quentinha...
O sabor de dia-a-dia me invade a boca.
O cheiro de dia-a-dia me invade as narinas
.
E ainda que pressinta algo de felicidade,
meu paladar embrutecido
se recusa.

Me levanto, apressado,
bebo o café amargo da solidão
e sigo pro trabalho, faminto
como sempre!

quinta-feira, março 01, 2007